Você já se perguntou por que algumas pessoas convivem bem com o zumbido no ouvido enquanto outras sentem um incômodo intenso, mesmo quando os sons são semelhantes? A resposta está na percepção do zumbido — um processo muito mais profundo e complexo do que se imagina.
Nesse artigo, vamos mergulhar nesse tema com base em uma conversa entre especialistas do Z.Cast, podcast liderado pelas otorrinolaringologistas Dra. Ligia Morganti e Dra. Sandra Bastos. A ideia aqui é traduzir o que a ciência já sabe, sem complicar, mas sem cair no raso.
Percepção do zumbido: muito além do som
Antes de tudo, vale entender o que é essa tal “percepção”. De forma simples, é como interpretamos os sons que chegam aos nossos ouvidos. Mas não se trata apenas de escutar — trata-se de sentir, interpretar, reagir.
Como a Dra. Claudia Candelot explicou no episódio, a percepção não é só uma questão sensorial. É um processo ativo, que depende das nossas experiências, emoções, contexto de vida e até da forma como nosso cérebro foi “treinado” ao longo da vida. Isso se aplica diretamente ao zumbido no ouvido.
No episódio 5 do Z.Cast, as doutoras Ligia Morganti e Sandra Bastos conversam com a Dra. Claudia Candelot, Fonoaudióloga especialista em Audiologia, avaliação e reeducação do equilíbrio. Nesse bate papo, a Dra. Claudia Candelot fala sobre as particularidades envolvidas na percepção do zumbido, confira:
Episódio #05 – Percepção sensorial e zumbido
Dois pacientes, um mesmo som. Reações opostas
A percepção do zumbido varia tanto que dois pacientes podem ter um som semelhante — medido inclusive pela acufenometria — mas reagem de formas completamente diferentes. Um consegue ignorar ou conviver bem com o ruído. O outro, mal consegue dormir ou se concentrar.
Por quê?
Porque a percepção do zumbido é subjetiva. Ela é moldada por fatores como:
- Nível de estresse
- Histórico emocional
- Ambiente em que a pessoa vive
- Relação pessoal com o silêncio
- Presença de outras condições, como ansiedade ou hiperacusia
Esse é um ponto que os otorrinolaringologistas especialistas em zumbido costumam enfatizar: não basta medir o som. É preciso entender quem está ouvindo esse som.
O papel do cérebro e da experiência
Imagine que seu cérebro é um grande filtro. Ele decide o que prestar atenção e o que ignorar. Um som que, tecnicamente, poderia passar despercebido, pode ganhar destaque quando você está mais ansioso ou em um ambiente silencioso.
Isso se intensifica quando o paciente tem alguma perda auditiva, ainda que mínima. O cérebro, na tentativa de “compensar” a falta de estímulos auditivos, pode amplificar o que ouve — inclusive o próprio zumbido. E aí, ele se torna mais evidente, mais incômodo.
A ciência já sabe que a acufenometria — exame que mede a frequência e a intensidade do zumbido — nem sempre corresponde à real percepção do paciente. Porque essa percepção é moldada por muito mais do que decibéis.
Subjetividade: o que a ciência está aprendendo a valorizar
Durante muito tempo, a medicina focou na objetividade: exames, números, gráficos. E tudo isso continua sendo fundamental. Mas no caso do zumbido, a subjetividade tem um peso gigantesco — e não pode ser ignorada.
“Cada pessoa tem o seu ‘mundo de vida’”, explicou a Dra. Claudia. Ou seja, vivemos em realidades diferentes, mesmo ouvindo os mesmos sons. Um ambiente estressante, por exemplo, pode aumentar a percepção do zumbido, enquanto um ambiente acolhedor e seguro pode torná-lo menos invasivo. Inclusive, um mesmo som pode ser percebido de formas diferentes por dois pacientes, mesmo que ambos tenham zumbido.
A importância da abertura ao tratamento
Esse entendimento também transforma a forma como o tratamento para zumbido deve ser conduzido. O paciente precisa estar aberto ao processo terapêutico, o que inclui escutar o próprio corpo, observar seus gatilhos emocionais e desenvolver estratégias que envolvem mais do que medicamentos.
A Dra. Sandra destacou um ponto importante: “A gente lida mal com a subjetividade. Mas fugir dela só dificulta o processo”. Em outras palavras, aceitar que o zumbido pode estar ligado a fatores emocionais ou comportamentais não é fraqueza — é parte essencial do caminho para lidar melhor com ele.
Existe tratamento para o zumbido?
Sim, há tratamento para o zumbido, mas ele precisa ser personalizado. Não existe uma fórmula única. Alguns caminhos incluem:
- Terapia sonora
- Técnicas de relaxamento
- Reabilitação auditiva
- Uso de aparelhos auditivos (em casos com perda auditiva associada)
- Terapia cognitivo-comportamental
- Abordagens integrativas, como fisioterapia ou técnicas de consciência corporal
O mais importante é contar com um time especializado e um otorrinolaringologista com experiência em zumbido, capaz de montar uma estratégia que considere tanto os dados objetivos quanto os fatores subjetivos.
Escutar é mais do que ouvir
No fim das contas, entender a percepção do zumbido é entender que cada pessoa escuta de um jeito. E isso não tem nada de estranho — é humano. Como os episódios do Z.Cast mostram, viver com zumbido não precisa ser uma sentença.
Quando a gente amplia o olhar, abre espaço para novos significados, novos cuidados. E, muitas vezes, isso já é o começo de uma vida com menos incômodo e mais qualidade.
Se você convive com o zumbido e sente que ele toma conta do seu dia, você não está sozinho. Há caminhos possíveis, e profissionais prontos para escutar — de verdade.
Para mais informações sobre o tema, acompanhe o Z.Cast, o nosso podcast especializado em zumbido! Estamos presentes nas principais redes sociais e plataformas, venha dar uma olhada:
Quer saber mais sobre o universo do zumbido no ouvido? Não perca nenhuma das nossas postagens! Até mais!